Trecho do Livro, No Tempo de Arí Barroso.
…onde Ari Barroso teve recusado o seu pedido de um uísque, porque a casa não servia a quem estava sem gravata. Deixando o Vogue e foram para a Tasca, onde beberam “escondidos do sol, por trás das cortinas”.
– Quando me falam em concurso de carnaval é como se dissessem que o Flamengo foi comprado pelo Vasco. Fico irritadíssimo – disse Arí, numa entrevista a Flávio Porto para a Revista do Disco, de março de 1953. Mas não disse que, cinco anos antes, participara de um concurso carnavalesco, obtendo o terceiro lugar. De qualquer maneira, a entrevista assinalou o início da amizad de Arí Barroso com Flávio Porto, um jornalista bem mais jovem do que ele, irmão do extraordinário Sérgio Porto e que seria seu companheiro de mesas de bar durantemuitos anos. Tal qual ocorrera com Isaac Zukenman, amigos, amigos, namoro com Mariúza a parte. No dia em que Flávio compareceu à mansão do Leme para bebericar com Arí, encantou-se com Mariúza – por sinal, uma moça muito atraente – e não tirou os olhos nela. Quando Flávio Porto decidiu ir embora, Arí Barroso levou-o até a porta e, na volta comunicou aos demais moradores da casa:
– Esse Flávio Porto nunca mais entra aqui! E não entrou mesmo.
No dia 16 de março, à frente de uma delegação de dirigentes da SBACEM, Arí Barroso foi recebido no Palácio do Catete pelo presidente Getúlio Vargas, a quem doi pedido ajuda para que a sociedade pudesse comprar o prédio da Rua Buenos Aires, onde já estava instalada. Getúlio atendeu à reivindicação e determinou que o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários – IAPC – liberasse os recursos necessários. Foi uma das últimas atividades no Brasil, antes de sua viagem à Venezuela e ao México, onde se apresentaria acompanhado de orquestra, cantores e outras atrações. Por causa da viagem, pediu licença (sem vencimentos) de 120 dias na Rádio Tupi, a partir de 1º de março.
Ary Barroso chamava o seu grupo musical de “orquestra-espetáculo”, pois não pretendia das apenas recitais no exterior, mas shows de verdade. A excursão foi programada por dois empresários, o chileno Florencio Contreras e o argentino Cesar Luchetti. Às vésperas da viagem, ensaiava num dos salões da sede social do Flamengo, quando foi entrevistado pelo semanário Flan sobre seus planos.
– Apresentarei o samba como eu entendo de sampa. Não levaria melodias brasileiras atualmente em voga, porque o estrangeiro não teria a menor impressão do nosso sentido ritmico-melódico – disse ele, acrescentando que, “hoje em dia” dificilmente de identifica o samba brasileiro, em virtude de sua confusão com os boleros e os blues norte-americanos. Espero que esta fase de melancolia aguarda há de passar e voltaremos a ouvir novamente os afoxés, os tambores, os pandeiros e os agogôs”.
A orquestra era constituída por representantes do primeiro time dos instrumentistas brasileiros, quase todos integrantes das orquestras Tabajara do maestro Severino Araújo (Rádio Tupi), e Marajoara, do maestro Peruzzi (Rádio Mayrink Veiga), No pistom, Júlio Barbosa (Julinho), José Luis e Geraldo Medeiros, no sax, Paulo Moura, Darci Barbosa, Bijou e Orfeu; na bateria, Alfredo de Souza, o Mesquita; no contrabaixo, Malagutti; no piano, Gauri; no trombone, Maciel e Nelsinho, e, no pandeiro, Carajumo. Além de três percussionistas, viajaram também os cantores Édson Lopes, Araci Costa e Dora Lopes, o cômico e imitador Walter Machado e o dançarino Vieirinha (Manuel Vieira Filho). Os arranjos foram escritos pelos maestros Severino Araújo, Pernambuco, Morfeu e Zezinho. O grupo saiu do Brasil com o roteiro musical elaborado:
– Rio de Janeiro – solo de orquestra
– Terra Seca – Édson Lopes
– Chamego – Dora Lopes
– Boneca de piche – Araci Costa e Vieirinha
– Na Baixa do Sapateiro – Édson Lopes
– Imitações diversas (entre outras, de Carmen Miranda, Libertad Lamarque e Augustin Lara) – Walter Machado
– Granada, em rítmo de samba – Orquestra
– Sinfonia Carioca – Édson Lopes
– Frevo – Orquestra e Vieirinha
– Macumba – Dora Lopes e Vieirinha
– Aquarela do Brasil – Édson Lopes
– Rapsódia carnavalesca – Todo o conjunto
Arí explicou que a apresentação de Granada, em rítmo de samba era uma homenagem ao seu autor, o mexicado Augustin Lara, “um dos melhores compositores do mundo”.
Em companhia da filha Mariúza (Ivone não viajou, porque preferiu permaneceer no Rio, tomando conta das obras da cada de Araras), Arí Barroso e seu grupo seguiram para a Venezuela, onde cumpriram temporada de 12 dias em emissoras de rádio e em casas noturnas. De Caracas, viajaram para o México, com baldeação em Miami. Pretendiam permanecer quatro semanas na capital emxicana, apresentando-se em emissoras de rádio, em boates e no teatro, com possibilidades de esticar a excursão até os Estados Unidos e Cuba. Tudo começou bem, não faltando nem mesmo uma recepção promovida pela escultural atriz Maria Antonieta Pons, em sua casa, no bairro de Las Palmas. Foi uma festa e tanto. Arí Barroso tocou piano, todos os músicos fiseram o seu show e, como não poderia deixar de acontecer, Maria Antonieta dançou e tocou maracas. Arí Barroso estava feliz, pois exibia-se sempre para casas cheias e a imprensa mexicana tratava-o com carinho. Chegou a compor uma música intitulada México, em retribuição ao pais que o recebia tão bem. Suas apresentações no Teatro Lírico ganharam ainda mais interesse popular, com a decisão da direção do teatro de promover duas sessões diárias: uma com Arí Barroso e sua orquestra, outro com Augustin Lara e sua orquestra. Nenhum dos dois sabia reger, mas ninguém ligava para isso, porque eram duas grandes personalidades da música mundial e extraordinarinários compositores entre um e outro, sem deixar, porém, de destacar as virtudes de ambos: “Dois colosos frente a frente” – foi o título de uma das matérias abordando o assunto…(segue)
fonte: Livro: “No Tempo de Arí Barroso” – Autor Sérgio Cabral – Lumiar Editora – páginas 301/302